O planejamento de Luiz Renato Topan para o Pódio no Ironman do Havaí

Em 2011, tivemos excelentes resultados dentre nossos 11 atletas que estavam no Havaí, mas quando se trata de alta performance, o vice-campeonato de Luiz Topan, na categoria M45-49 anos, com o tempo de 9h17min, é um destaque. No artigo abaixo vou dividir alguns detalhes da preparação, planejamento, estratégia de prova e treinos, que são necessários para atingir uma performance nesse nível.

Planejamento

Voltando em 2009, Luiz foi quarto lugar na categoria M40-44 com o tempo de 9h27min, quando ele subiu no pódio um detalhe me chamou a atenção, ele era o único atleta que não tinha 40 anos. Recebi, ali, uma forte mensagem: Uma vez que atletas amadores passam de seus 40 anos, existe uma queda em sua performance do ponto de vista fisiológico.

Esse foi o ponto inicial do planejamento para a escolha da próxima prova em Kona. Topan iria competir apenas em 2011, quando teria quarenta e cinco anos, sendo assim o mais novo de seu age group, aumentando suas chances de vitória. Desse ponto em diante, todo o calendário nesses 2 anos foi estruturado para atingir este objetivo e escolhemos o Ironman de Cozumel em Novembro de 2010.

A prova de Cozumel, quase um ano antes de Kona, foi uma decisão inteligente, pois daria a oportunidade ao atleta de se recuperar completamente da prova classificatória, antes de iniciar os treinos específicos para o Havaí. Topan tem um corpo um tanto quanto frágil no sentido de lesões, o que cortou a opção de escolher uma prova classificatória no meio do ano, um pouco antes do Ironman do Havaí, pois é nesse período que a maioria dos eventos acontece.

O resultado em Cozumel foi excelente apesar de um pneu furado, Luiz foi segundo lugar na categoria M40-44 com o tempo de 9h11min, o que lhe deu a vaga para o Havaí na categoria M45-49 (Luiz ainda tinha 44 anos na data da prova de Cozumel, mas para a prova em Kona, o que conta é sua idade no final do ano da prova).

Treinamento

Fizemos dois blocos de treinos direcionados para o Havaí. Esses treinos foram bem específicos para a situação do atleta, pois Luiz acabara de se recuperar de uma lesão, no início do ano.

1º Bloco de Treinos

Natação: Volume alto, Intensidade alta.

Ciclismo: Volume alto, Intensidade mo-derada.

Corrida: Volume baixo, intensidade baixa.

A decisão de estruturar os treinos como detalhado acima, possibilitou que o atleta trabalhas-se volume antes do segundo bloco de treinos, pois devido à lesão, não seria possível fazer o volume necessário no ciclismo e na corrida.

2º Bloco de Treinos

Natação: Volume moderado, Intensidade alta.

Ciclismo: Volume moderado, Intensidade alta.

Corrida: Volume moderado, intensidade moderada.

Como descrito acima, com um volume de ciclismo menor, o resultado é um melhor equilíbrio hormo-nal, com menos cortisol oriundo de treinos de longas distâncias, associados a treinos curtos e intensos no ciclismo e natação, que ajudam a recuperar níveis de GH e Testosterona, aumentando o sistema imunológico. Essa combinação resultaria em um corpo mais saudável que então conseguiria absorver um volume de corrida maior que o anterior sem problemas de uma lesão recorrente.

Dia da Prova

Dividimos o quarto em Kona, foi excelente ver que ele estava relaxado e confiante. Somado a isso, o fato de ele ser um atleta com diversas experiências internacionais, faz com que a prova do Havaí seja “apenas mais uma”, deixando assim o nervosismo sob controle.

A estratégia do Topan era tudo ou nada, íamos para a vitória. Sabíamos que, ainda que ele quebrasse, ficaria mais satisfeito por ter tentado, do que se tivesse competido dentro dos seus limites e alcançado somente mais um resultado razoável.

Falando em vitória, sabíamos que um atleta em especial, chamado Bent Andersen, seria um grande desafio. Bent tem vários títulos em Kona e até pouco tempo atrás, era o recordista da prova em 3 diferentes categorias (35-39, 40-44, 45-49). Bent foi um atleta profissional a nível mundial na década de 90, mas como a prova só termina quando alguém cruza a linha de chegada, Topan foi para cima.

A natação foi conforme planejado, nadando no primeiro grupo dos amadores, terminou com 53 minutos. Após uma rápida transição, ele estava na bike, onde as instruções eram pedalar como se não houvesse corrida após. Ele sabia que precisaria de uma boa vantagem na corrida, pois devido às lesões e treinos limitados na modalidade, sua maratona não seria muito mais forte do que 3h20min, então a única chance seria segurar na corrida a grande vantagem aberta na natação e ciclismo.

Ao sair para correr, passei a ele a parcial de 5min40seg de vantagem sobre o segundo colocado, Bent Andersen, a disputa então começava de verdade. Estava passando as parciais para Topan a cada cinco quilômetros, e na entrada do famoso Energy Lab, Topan ainda tinha dois minutos de vantagem, mas estava sentindo o calor e cansaço de Kona. Tentamos então uma estratégia para abalar a confiança do segundo colocado, assim que chegasse no retorno, Topan iria ace-lerar o ritmo, correr com uma fisionomia tranquila no sentido oposto de Bent.

Mas, Bent é um atleta experiente e não se abalou. Alcançou Topan no quilome-tro trinta e dois e abriu dois minutos de vantagem em cinco quilômetros. Porém, Topan precisava se manter em uma distância de ataque, pois no Ironman tudo é possível e nunca se sabe se o primeiro colocado pode quebrar nos quilômetros finais da prova. Isso nunca aconteceu com o Bent, que foi o atleta mais forte daquele dia e merecedor do título de campeão mundial de Ironman categoria M45-49.

Topan ficou extremamente feliz com sua performance, pois fez uma das melhores provas de sua vida, sem deixar para trás qualquer alternativa e não poderia ir um minuto mais rápido sequer. É essa a lição que tentamos passar para nossos atletas sejam em treinos, competições ou outros desafios em suas vidas pessoais: Fazer sempre seu melhor absoluto, para ficar satisfeito com seu esforço, independente do resultado.

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Date: October 11, 2012
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