Rafael Araújo Ferreira de Souza, nascido no Rio de Janeiro em 19/10/1982, iniciou na natação com 15 anos e dos 17 aos 21 anos competiu em provas de 400 medley e 200 peito nos campeonatos estaduais e brasileiro. Sempre foi um rapaz observador, meticuloso, humilde e principalmente obstinado pelo trabalho. Desde o início de sua vida esportiva seguiu um lema propagado pelo treinador multi-campeão da seleção brasileira masculina de vôlei: “a vontade de se preparar deve sempre ser maior que a vontade de vencer”.

Com 27 anos começou no triathlon pela distância short, mas logo veio a curiosidade pelas provas mais longas e fez sua primeira prova na distância de meio Ironman em Pirassununga no ano de 2009 fechando com o excelente tempo de 4h45’. Mas teve algumas dificuldades na prova em função de ainda não estar adaptado à passar tanto tempo competindo. Até mesmo nos treinos ele não conseguia entender alguns conceitos aplicados devido a querer sempre fazer um certo tipo de paralelo com a época em que era nadador. Conversamos muito e quando ele teve a oportunidade de participar de um training camp organizado por mim, onde fiz algumas palestras sobre “O Método”, além dos treinos específicos de cada modalidade, ele pode definitivamente perceber que o triathlon não é natação + ciclismo + corrida e sim nataçãociclismocorrida.

 

Rafael no Ironman de Fortaleza 2014

Rafael no Ironman de Fortaleza 2014

Ele entendeu que alguns conceitos que são verdadeiros e muito aplicados em treinos e provas dos esportes separadamente não refletem muitas vezes a realidade de um planejamento ou uma prova de triathlon, como por exemplo periodizações, polimentos e determinadas técnicas. Com esse novo conceito internalizado, voltou aos treinos e no ano de 2012, novamente no Long Distance de Pirassununga, fez 4h22’. A partir daí encontrou algumas dificuldades para treinar em função do trabalho e ficou o ano de 2013 praticamente sem competir, mas planejando sua estreia na distância Ironman para o 1º semestre de 2014 em Florianópolis.

 

Foram 20 semanas de treino com algumas dificuldades, como uma lesão no joelho no último mês que o impediu de fazer os treinos de corrida, conforme planejado e precisamos reestruturar a planilha para ainda sim ele ter condições de performar bem na Ilha da Magia. Fazendo uma prova conservadora, como havíamos conversado, por ser sua primeira vez numa distância tão longa e com objetivo principal de apenas cruzar a linha de chegada, tudo transcorreu bem e eu que também estava competindo naquele dia ficava feliz toda vez que cruzava com ele em algum retorno por perceber que ele estava dominando as dificuldades e lidando muito bem com as variáveis da prova. Seu semblante sempre concentrado, mas sereno. O resultado de 9h42’ não foi uma surpresa para mim, pois na verdade eu sabia que ele podia mais do que isso, mas como um atleta que conhece seus limites seguiu o plano e obteve além do sucesso a confiança que precisava para buscar voos mais altos.

 

Passado um mês da prova, as inscrições para 2015 iriam ser abertas e ele me ligou perguntando se eu achava que ele deveria se inscrever. Eu disse pra ele que não achava a melhor opção, visto que a dinâmica da prova de Floripa não o favorece, por ele não ter na corrida o seu ponto forte e sugeri que se inscrevesse no Ironman Fortaleza, que estaria em sua primeira edição, as vagas não haviam esgotado, provavelmente a concorrência seria menor, já que os atletas classificados para Kona em maio tinham acabado de competir no mundial e que era uma prova onde às condições de correnteza, temperatura, altimetria e vento fariam com que essa prova não fosse para atletas mais velozes e sim para os atletas mais durões.

 

Inscrição feita, em agosto iniciou-se a segunda fase de treinos do ano, que duraria 12 semanas. Inicialmente focamos em reduzir o volume e trabalhar bastante intensidade, visto que o lastro geral do 1º semestre nos permitia essa abordagem. Logo em seguida, começamos a fazer trabalhos específicos para as condições da prova nordestina. Na água, muito treino com borracha nos tornozelos e menos pullboy que na preparação para Floripa. Na bike, muitas horas no big gear (relação de marcha mais pesada da bike) para garantir força para encarar o rolling hills e os ventos, mas também algumas séries de velocidade para usar uma cadência mais alta quando o vento estivesse à favor. Na corrida, o foco foi o alto ritmo de passadas em um trabalho de mais volume, já que na preparação para o primeiro Ironman isso não foi possível devido à lesão no joelho e a compreensão de que seria difícil correr rápido no calor do Ceará, valeria muito mais a consistência.

 

Chegou o dia 09 de novembro e mais uma vez eu, competindo na mesma prova, ficava feliz ao cruzar com ele nos retornos. O mesmo semblante concentrado, mas dessa vez sisudo! Mesmo rapidamente era possível perceber que ele estava o tempo inteiro “olhando para dentro de si” numa espécie de meditação em movimento, buscando a força que as intemperes da natureza pareciam lhe tirar.

 

Rafael no Ironman de Fortaleza 2014

Rafael no Ironman de Fortaleza 2014

Novamente o resultado não foi surpreendente para mim, pois eu o acompanho de perto desde que ele ingressou nesse esporte e como falei anteriormente, sabia que ele podia mais. Planejei para que ele conseguisse mais! E esse mais foi exatamente conquistar o que praticamente todos os triatletas desejam: a tão sonhada vaga para o Mundial do Havaí com 9h49’ sendo o 7º colocado na categoria 30 – 34 anos. De quebra ainda foi o 27º colocado geral e o 12º melhor amador.

 

Logicamente que ele está muito satisfeito, mas como a vontade de se preparar é o seu motor primário, já me questionou sobre como podemos melhorar sua corrida na próxima temporada? Portanto, é hora de começarmos a planejar novamente…

 

Parabéns Rafael, a Big Island está esperando por você. Aloha!!!

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Date: November 29, 2014
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