Introdução
Se você já competiu em um triathlon, sabe que a natação é muito diferente do que você encontra em uma piscina. Marolas que lhe freiam e aumentam a resistência de seu nado, outros atletas que dividem seu espaço, navegação e respiração frontal são alguns exemplos que aumentam o desafio de se nadar com uma técnica suave. Por esses motivos, uma natação rápida na piscina, não necessariamente resulta em uma natação rápida em um triathlon, pois além de um condicionamento específico na água, nadar em águas abertas requer experiência e técnica específica.
Esse artigo explica os benefícios de uma técnica bastante controversa utilizada na natação, principalmente em provas em aguas abertas e de triathlon, a recuperação com os braços esticados, também conhecida como “cata vento” já que a combinação do braço reto com uma maior frequencia de braçadas pode lembrar um cata-vento. A técnica oposta é o nado livre tradicional, quando na recuperação da braçada o cotovelo é dobrado e fica mais alto do que a mão, que corre rente a superfície da água.
Benefícios
Entender os benefícios é uma parte fundamental na mudança de sua técnica, pois para quem vê de fora, esse tipo de nado parece ser mais cansativo e menos suave do que o nado livre tradicional com dos cotovelos dobrados. Os pontos abaixo são alguns dos benefícios mais relevantes da recuperação com braço esticado para triatletas.
Ajuda seu lado mais fraco
Respire para seu lado mais forte. Geralmente se você é destro, seu lado direito será mais forte portanto respire para a direita todo ciclo de braçadas, e então quando você adiciona a recuperação com braço esticado, você tem essa recuperação forte e agressiva, ao mesmo tempo que seu lado mais fraco, o esquerdo faz a puxada, sendo assim sua recuperação auxilia seu lado esquerdo na hora da puxada. Entenda que seu nado não será nem parecerá simétrico, e isso é algo esperado.
Menos pernada significa um ciclismo e corrida mais rápido
Ao eliminar seu deslize e aumentar sua frequencia de braçadas, você não irá mais precisar de uma pernada forte para manter sua inércia, isso lhe economizará energia tanto das pernas como uma menor frequencia cardíaca, resultando assim em mais energia para o final da prova. A não ser que você venha da natação com muitos anos de experiência, pernada não é uma forma real de propulsão, uma maneira para testar esse argumento é realizando um teste contra o relógio de 200m com uma prancha, você vai entender o quão desgastante a pernada pode ser e seu tempo final será muito lento. A pernada deve ser suave e em 2 tempos (por ciclo de braçada), apenas para lhe ajudar com o ritmo de braçadas e coordenação
Adaptação mais fácil no wetsuit
Nadar com o wetsuit se torna muito mais fácil quando a recuperação tem o braço esticado. De uma maneira geral, a roupa de borracha cria uma resistencia na região do cotovelo o que faz com que o atleta seja forçado a nadar com uma angulação do cotovelo mais aberta de qualquer maneira, e se o único dia em que você irá nadar daquela maneira é no dia da prova, você não estará acostumado e seu nado ficará desequilibrado.
Facilita Navegação e nadar em linha reta
Boa parte dos triatletas cruzam a linha do ombros na entrada das mãos na água, o que é agravado em caso a respiração seja bilateral, isso resulta em um nado “zig-zague”. Ao fazer a recuperação com o braço esticado você elimina a angulação do cotovelo o que torna quase impossível a cruzada da linha do ombro, pelo contrário, sua mão entrará na água mais afastada do centro (linha da cabeça) o que lhe proporcionará mais equilíbrio e estabilidade. Como uma analogia, visualize um circo onde alguém irá andar na corda bamba, esses artistas abrem os braços para aumento de equilíbrio, agora visualize a mesma corda bamba com alguém andando sobre ela de braços cruzados, não é possível.
Pontos chaves da recuperação com o braço esticado
Acabe com o deslize:
O deslize em águas abertas não é ideal desde que para que ele seja funcional é preciso de uma forte pernada para sustentar sua velocidade durante o “ponto morto” de sua braçada, além disso vimos também que triatletas em sua maioria não tem uma forte pernada devido a uma falta de experiência com essa parte técnica, além de tornozelos poucos flexíveis que é um resultado dos treinos de corrida, e por fim, uma pernada forte usa energia específica da musculatura da perna além do aumento da frequencia cardíaca. Essa combinação torna a alta frequencia de braçada um estilo obrigatório enquanto nada, os outros benefícios são resultado de uma técnica mais eficiente em águas maroladas.
Lado da respiração: Trave e Gire
Quando sua mão estiver saindo da água ao final da remada, trave seu cotovelo a medida que seu braço sai da água. Quando sua mão entrar na água a sua frente, gire seus ombros para aproveitar ao máximo a puxada de cada braçada
Lado oposto da respiração: Mais relaxado e aberto
Respirar todo ciclo de braçada para seu lado mais forte irá gerar um nado assimétrico, por essa razão, seu quadril irá girar somente para o lado da respiração. Visualize que seu umbigo irá apontar em direção a parede no lado da respiração, porém no lado em que você não respira, você não deve girar tanto, sendo assim seu ombigo irá apontar somente para o fundo da piscina com uma pequena angulação para o lado oposto da respiração.
Seja ligeiro
Auto-conhecimento é fundamental ao experimentar essa mudança em sua técnica de nado. Concentre-se em uma forte puxada e seja ligeiro com seus braços. Você quer ter certeza que está mantendo seus braços o mais firme possível para resultar em uma forte remada e rápida recuperação.
Argumentando contra o senso comum e sendo controverso
Se você treina em uma piscina pública, um clube ou com amigos, um resultado na mudança de seu estilo de nado é praticamente certo, pessoas irão comentar sobre ela, afinal não é um nado suave e vai contra quase tudo que é senso comum quando se fala em técnica de natação, a respiração é apenas para um lado, o nado é assimétrico, espirros de água são parte do nado. Precisamos aceitar e entender que é um nado feio!
O problema é que a partir do ponto que várias pessoas conversam com você sobre o assunto e lhe falam que o que você está fazendo é errado e que você deve voltar ao nado livre tradicional, isso irá afetar sua confiança na mudança e os resultados não serão os mesmos de alguém que está 200% confiante no processo. Se os benefícios explicados acima não são suficientes para lhe convencer (e a seus amigos) que você irá nadar mais rápido como triatleta e em águas abertas, você pode também observar alguns resultados de nadadores de piscina que utilizam a mesma técnica de recuperação com o braço esticado. Os exemplos abaixos cobrem todas as distâncias, sexo e perfis de eventos de natação e triathlon, é possível ser um campeão mundial ou olímpico utilizando essa técnica.
Triathlon Feminino: Joanna Zeiger (4th Lugar Olimpíadas 2000, 5th Lugar Ironman Hawaii 4 semanas depois & Campeã Mundial de Ironman 70.3 em 2008)
Triathlon Masculino: Harry Whitshire (um dos melhores nadadores do circuito da ITU) é o garoto propaganda para a recuperação com braços esticado.
Natação em Piscina – Velocista: Eamon Sullivan (Campeão Mundial & Olímpico e antigo recordista dos 200m livre em 47.05 no ano de 2008)
Natação em Piscina – Meia Distância: Michael Klim (Campeão Mundial e Olímpico 200m nado livre)
Natação em Piscina – Fundista: Janet Evans (Campeã Mundial e Olímpica, seu recorde nos 800m livre 8’16”22 durou 19 anos!)
Agora você tem argumentos caso um professor de natação local ou amigo tenta lhe convencer que a recuperação com braços esticados não resulta em um nado rápido. Como argumentar com os resultados acima?
Como fazer a transição para essa nova técnica?
Você está decidido a tentar incorporar essa técnica em seu nado, mas qual a melhor maneira de mudar?
Mantenha seus treinos, séries e tiros, curtos.
Ao fazer tiros curtos (de 25m a 200m) com um intervalo rápido entre cada um (5-20seg), você mantém uma melhor técnica e velocidade ao longo do treino, porém o descanso entre cada um não é longo suficiente para deixar sua frequencia cardíaca cair de maneira significante. O resultado é que fisiologicamente você tem os mesmos benefícios aeróbicos e de endurance muscular de um treino contínuo, porém você o fez mais rápido e com uma melhor técnica, ensinando seu corpo aos poucos o que um dia será seu padrão.
Use e abuse das ferramentas de treinos:
Elásticos ao redor dos tornozelos: Prender seus tornozelos um ao outro com uma tira elastica (geralmente uma camara de ar de bicicleta) é uma excelente maneira de acabar com o ponto morto de sua braçada (também conhecido como deslize) e força-lo a acelerar a frequencia de suas braçadas caso contrário você literalmente irá afundar! Ajuda também a lhe deixar mais consciente de toda sua braçada, pois você ira precisar ser eficiente em todo momento de propulsão. Seu ritmo de pernada será em dois tempos, pois sua pernada será limitada.
Palmar: Recomendamos o Palmar da marca Tyr e modelo Catalyst, ou nacional o palmar Power da Fiori. Em relação ao tamanho, tenha preferência para os menores, PP para iniciantes (ex: mais lentos do que 25min em 1.500m) e/ou com um biotipo pequeno, e tamanho P para atletas mais altos ou mais velozes (abaixo de 25min em 1.500m)
Pulbóia: O principal objetivo da pulbóia em treinos de natação para triatletas, é aliviar o sofrimento que a natação oferece somente com o ato de se manter na superfície da água, sem essa parte, você pode focar no que realmente interessa, aprender a nova técnica de realizar a recuperação fora d’água com os braços esticados além de se preocupar com a entrada e puxada. Além disso a pulbóia simula o uso do wetsuit, ajudando na flutuação, ou até mesmo simulando a flutuação extra que você tem quando nada no mar se comparado a piscina.
Compromisso: Caso você tenha problema em adaptar-se a esse novo estilo, comprometa-se em tentar por ao menos três meses e duas provas em águas abertas antes de desistir e voltar a técnica tradicional. Assim como qualquer mudança ou resultado de treinos, não tenha medo de dar um passo para trás, se isso significa dar dois passos a frente em um futuro próximo.
Assista o video completo no portal Mundotri, clique aqui:
Por Vinícius Santana, ironguides.com.br créditos do video Wagner Araujo mundotri.com.br
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